JERUSALÉM

 

 Jerusalém, representação do século XIV  

 

ETIMOLOGIA

 

Jerusalém: em hebraico moderno:ירושלים (transliteração: Yerushaláyim); em hebraico clássico: ירושלם; em árabe: القدس (transliteração: al-Quds); em grego Ιεροσόλυμα (transliteração: Ierossólyma).

 

Ainda que a origem do nome Yerushaláyim seja incerta, várias interpretações linguísticas têm sido propostas. Alguns acreditam que é uma combinação das palavras em hebraico yerusha (legado) e Shalom (paz), ou seja, legado da paz. Outros salientam que Shalom é um cognato do nome hebraico Shlomo, ou seja, o Rei Salomão, o construtor do Primeiro Templo. Alternativamente, a segunda parte da palavra seria Salém (Shalem literalmente “completo” ou “em harmonia”), um nome recente de Jerusalém; isto aparece no livro de Génesis (14, 18). Outros citam as Cartas de Amarna, onde o nome acádico da cidade aparece como Urušalim, um cognato do Hebreu Ir Shalem. Alguns acreditam que há uma conexão com Shalim, a divindade beneficente conhecida dos mitos ugaríticos como a personificação do crepúsculo.

 

De acordo com um midrash (Bereshit Rabá), Abraão veio até a cidade, e a chamou de Shalem, depois de resgatar Lot. Abraão perguntou ao rei e ao mais alto sacerdote Melquisedec se podiam abençoá-lo. Este encontro foi comemorado pela adição do prefixo Yeru (derivado de Yireh, o nome que Abraão deu ao Monte do Templo) produzindo Yeru-Shalem, significando a “cidade de Salém”, ou “fundada por Salém”. Shalem significa “completo” ou “sem defeito”. Por isso, Yerushaláyim significa a “cidade perfeita”, ou “a cidade daquele que é perfeito”. A terminação -im indica o plural na gramática hebraica e -ayim a dualidade, possivelmente referindo-se ao facto de a cidade se situar em duas colinas. O pronunciamento da última sílaba como -ayim parece ser uma modificação posterior, a qual não havia aparecido no tempo da Septuaginta.

 

Alguns acreditam que a cidade chamada de Rušalimum ou Urušalimum que aparece nos achados do Antigo Egipto é a primeira referência a Jerusalém. Os gregos adicionaram o prefixo hiero (“sagrada”) e chamaram-na Hierosolyma. Para os árabes, Jerusalém é al-Quds (“A Sagrada”). Foi chamada de Jebus (Yevus) pelos jebusitas. Tzion (“Sião”) referia-se inicialmente a parte da cidade, mas depois passou a significar a cidade como um todo. Durante o reinado de David, ficou conhecida como Yir David (a cidade de David).

 

HISTÓRIA

 

Cerâmicas indicam a ocupação de Ophel (“Monte”), dentro da actual Jerusalém, desde a Idade do Cobre, cerca do Quarto Milénio a.C., com evidências de assentamentos permanentes durante o começo da Idade do Bronze, 3000-2800 a.C. Os Textos de Execração (cerca do séc. XIX a.C.), que se referem a uma cidade chamada Roshlamem ou Rosh-ramen e as Cartas de Amarna (cerca do séc: XIV a.C.) podem ser os primeiros a falar da cidade. Alguns arqueólogos acreditam que Jerusalém, como cidade, foi fundada pelos povos semitas ocidentais com assentamentos organizados em cerca de 2600 a.C.. Segundo a tradição judaica, a cidade foi fundada por Sem, filho de Noé, e Heber (bisneto de Sem), antepassados de Abraão. Nos relatos bíblicos, Jerusalém era uma cidade jebusita até ao séc. X a.C., quando David a conquistou e fez dela a capital do Reino Unido de Israel e Judá (cerca de 1000 a.C.; cf. 2 Sam 5, 6-9). Recentes escavações de uma grande estrutura de pedra são interpretadas por alguns arqueólogos como crédito à narrativa bíblica.

 

a) Origens (1200-1000 a.C.)

 

A referência mais antiga do nome Israel provém do final da Idade do Bronze Tardio, numa inscrição egípcia de cerca de 1207 a.C. A Estela de Merneptah foi erguida para comemorar a vitória contras os Líbios e os Povos do Mar, mas inclui um pequeno poema ou hino que enumera as vitórias contra várias cidades de Canaã. Perto do final, aparece a seguinte linha: «Israel foi devastado e a sua descendência não existe mais». Este Israel é identificado como um povo e é bastante provável que se situassem na região norte das terras altas do centro, território que viria a ser mais tarde parte do reino bíblico de Israel.

 

Nos princípios deste período ? cerca de 1200 a.C. ?, as terras altas centrais eram pouco povoadas, com cerca de 25 povoações e uma população de cerca de 12.000; passados cerca de 200 anos, o número de povoações cresceu para 300 e a população para 55.000. No plano político, não há nas terras altas qualquer sinal de autoridade centralizada; no religioso, não existe nenhum sinal de templos, altares, ou culto centralizado em geral (apesar de terem sido descobertos objectos de culto associados ao deus cananeu El); a cerâmica permanece fortemente na tradição do Bronze Tardio; e o alfabeto usado (embora tenham sido encontrados muito poucos exemplares) é o do cananeu primitivo. A quase única marca que distingue as povoações “israelitas” das cananeias é a ausência de ossos de porco, mas se isto pode ser tido como uma marca étnica ou devido a outros factores permanece matéria de discussão.

 

b) Idade do Ferro (1000-550 a.C.)

 

O Templo de Salomão (Primeiro Templo)

 

David reinou até 970 a.C. Sucedeu-lhe seu filho Salomão, que construiu o Templo Sagrado no Monte Moriá. O Templo de Salomão (mais tarde conhecido como o Primeiro Templo), passou a desempenhar um papel central na história judaica como o lugar onde estava guardada a Arca da Aliança. Ao longo de mais de 600 anos, até à conquista babilónica, em 587 a.C., Jerusalém foi a capital política e religiosa dos judeus. Este período é conhecido na história como o Período do Primeiro Templo. Após a morte de Salomão (c. 930 a.C.), as dez tribos do norte uniram-se para formar o Reino de Israel. Sob a liderança da Casa de David e Salomão, Jerusalém continuou a ser a capital do Reino de Judá.

 

Israel / Samaria

 

Uma inscrição do faraó Shoshenq I, provavelmente identificável com o bíblico Sesac (cf. 1 Rs 14, 25), apresenta uma série de campanhas dirigidas, aparentemente, na área imediatamente a norte de Jerusalém na segunda metade do séc. X a.C.. Cerca de cem anos mais tarde, o rei assírio Salmanasar III nomeia Acab de Israel entre os seus inimigos na batalha de Qarqar (853 a.C.), enquanto que na Estela Mesha (cerca de 830 a.C.) o rei de Moab celebra o seu sucesso ao tirar da opressão a “Casa de Omri” (i.e. Israel). De modo semelhante, a Estela Tel Dan fala da morte de um rei de Israel, provavelmente Jorão, às mãos de um rei arameu por volta de 841 a.C.. Escavações na Samaria, a capital israelita, reforça ainda mais a impressão de um reino poderoso e centralizado na região norte das terras altas durante os Sécs. IX e VIII a.C.. Na segunda metade do séc. VIII a.C., o rei Oséias, de Israel revoltou-se contra os assírios e foi derrotado (cerca de 722 a.C.). Parte da população foi deportada e foi substituída por colonos estrangeiros, passando Israel a ser uma província assíria.

 

Judá / Jerusalém

 

A primeira prova da existência de um reino organizado na região sul das terras altas provém da Estela Tel Dan, de meados do séc. IX a.C., que menciona a morte de um rei da “Casa de David” juntamente com o rei de Israel; a Estela Mesha (também da mesma época) parece também mencionar a Casa de David, embora a reconstrução que esta leitura permite é discutida. É geralmente assumido que esta “Casa de David” é a mesma que a dinastia bíblica, mas as evidências arqueológicas das escavações indicam que, durante os sécs. X e IX a.C., Jerusalém era apenas uma de quatro grandes povoações na região, sem nenhum sinal de primazia sobre as suas vizinhas. A reconstrução dos acontecimentos feita pela escola antiga é a de que isto deveu-se ao influxo de refugiados de Israel a seguir à sua conquista pelos assírios (cerca de 722 a.C.), mas a nova visão é a de que isso reflecte um esforço conjunto entre a Assíria e o rei de Jerusalém para estabelecer Judá como um estado vassalo assírio exercendo o seu controlo sobre a valiosa indústria do azeite. O súbito colapso do poder assírio na segunda metade do séc. VII a.C. levou a uma tentativa infrutífera de independência liderada pelo rei Jozias, seguida pela destruição de Jerusalém pelo sucessor da Assíria, o Império neo-Babilónico (587/586 a.C.).

 

c) Os períodos Babilónico e Persa (586-333 a.C.)

 

Em 586 a.C., os babilónios, sob o rei Nabucodosor II, derrotou o Reino de Judá, tomou Jerusalém e destruiu o Primeiro Templo. Os textos bíblicos ( 2 Rs; 2 Cr; Jer; bem como algumas referências em Ez e Dn) dizem que, com o cativeiro da Babilónia, apenas os mais pobres forma deixados em Judá, agora a província babilónica de Yehud. Poucos anos depois, ainda segundo a Bíblia, o governador de Yehud foi assassinado pelos seus rivais, desencadeando um êxodo de refugiados para o Egipto. Assim, por volta de 580 a.C. o povo de Judá podia ser encontrado em três locais separados: a elite na Babilónia; no Egipto; e um resto em Judá.

 

O exílio da Babilónia durou cerca de 50 anos (70 até ao regresso definitivo com a reconstrução do Templo). No entanto, quando Ciro, o Grande, da Pérsia conquistou Babilónia (tradicionalmente em 538 a.C.) e ao longo das décadas seguintes, alguns dos exilados puderam voltar para Jerusalém, mas a maioria permaneceu na Mesopotâmia. As relações entre os retornados e aqueles que encontram na sua terra parecem ter sido tensas: por mais de um século a capital administrativa manteve-se em Mizpah, no território de Benjamim, e os habitantes do norte (antes Israel, agora Samaria) opuseram-se à reconstrução das muralhas e do Templo em Jerusalém. Não obstante, o Templo foi reconstruído e dedicado no sexto ano de Dario (516/515 a.C.) devido aos esforços de Neemias e Esdras. Pouco se sabe da província de Yehud Medinata, embora seja claro que, como era normal no Império Persa, gozava de um grau considerável de autonomia interna.

 

d) Os períodos Helenístico e Romano (333 a.C. - séc. VII d.C.)

 

Em 331 a.C., Alexandre Magno conquistou o Império Persa. Com a sua morte, em 323 a.C., o seu Império desintegrou-se e a província de Yehud passou afazer parte do Reino do Egipto, governado pela dinastia ptolemaica. O domínio ptolemaico era brando, e Ptolemeu II Filadelfo (281-246 a.C.) promoveu a cultura judaica, patrocinando a Septuaginta, tradução da Torah em hebraico para grego. Este período viu também o começo dos fariseus e de outros partidários do Segundo Templo judeu, como os saduceus e os essénios. Mas no início do séc. II a.C., Yehud caiu sob o domínio do rei sírio selêucida Antíoco IV Epifânio (174-163 a.C.), que, contrastando com a tolerância manifestada pelos Ptolemeus, procurou a completa helenização dos judeus. A sua profanação do Templo fez deflagrar uma rebelião nacional, que terminou com a expulsão dos sírios e a re-consagração do Templo com os Macabeus.

 

O reino estabelecido pelos Macabeus foi uma séria tentativa para reavivar o Reino de Judá descrito na Bíblia: uma monarquia judaica governada a partir de Jerusalém e estendendo-se por todos os territórios outrora governados por David e Salomão. De forma a levar a cabo este projecto, os reis Hasmoneus conquistaram os territórios de Moab, Edom e Amon, bem como o reino perdido de Israel.

 

Em 64 a.C., o general romano Pompeu conquistou Jerusalém e fez do reino judaico um cliente de Roma. Em 57-55 a.C. Aulo Gabínio, procônsul da Síria, dividiu-o entre Galileia, Samaria e Judeia, com cinco distritos de Sinédrio. Em 40-39 a.C. Herodes, o Grande, foi nomeado rei dos judeus pelo Senado romano. Herodes dedicou-se a desenvolver e embelezar a Jerusalém: construiu muralhas, torres e palácios e expandiu o Templo, reforçando o pátio com blocos de pedra que pesavam até 100 toneladas, redobrando a área do Templo. Em 6 d.C., o seu sucessor, Herodes Arquelau, etnarca da Judeia, foi deposto pelo Imperador Augusto e a Samaria, a Judeia e a Idumeia foram anexadas como província de Iudæa sob administração directa romana.

 

Em 66 d.C. os judeus revoltaram-se contra Roma (a Grande Revolta Judaica). A revolta foi esmagada e o Templo destruído em 70 d.C.; mais de 100.000 judeus foram mortos durante o cerco de Jerusalém, perto de outros tantos foram levados para Roma como escravos, e muito outros fugiram para a Mesopotâmia e outros países. Em 130 d.C., Adriano romanizou Jerusalém, dando-lhe o nome de Ælia Capitolina. Em 132 começou uma segunda revolta, liderada por Simão bar Kokhba (a Revolta de Bar Kokhba), e foi declarado um estado independente de Israel. Também esta revolta foi reprimida em 135 d.C.. Como medida punitiva, Adriano proibiu os judeus de entrarem na cidade e reorganizou a Judeia como parte da província Sírio-Palesti-niana. A proibição de entrada dos judeus em Ælia Capitolina durou até ao séc. IV.

 

Nos cinco séculos seguintes à Revolta de Bar Kokhba, a cidade permaneceu sob domínio romano (depois, bizantino). Durante o século IV, o Imperador Constantino I mandou construiu alguns edifícios cristãos em Jerusalém, como a Basílica do Santo Sepulcro. Jerusalém atingiu o auge em tamanho e população no final do período do Segundo Templo: a cidade estendia-se por 2 Km2 e tinha uma população de 200 mil pessoas. A partir de Constantino até ao séc. VII, os judeus foram proibidos em Jerusalém, a não ser uma vez por ano, a partir de cerca de 430, quando a mulher do Imperador Teodósio II, Eudócia, consegue permissão para que venham a Jerusalém para a comemoração da destruição do Templo.

 

e) As guerras romano-persas (séc. VII)

 

No período de algumas décadas, Jerusalém trocou de mãos entre persas e romanos, até voltar à mão dos romanos mais uma vez. Depois, do avanço do comandante sassânida Cosroes II no início do séc. VII sobre os domínios bizantinos, avançando através da Síria, os generais sassânidas Shahrbaraz e Shahin atacaram a cidade de Jerusalém (persa: Dej Houdkh), então controlada pelos bizantinos.

 

No Cerco de Jerusalém em 614, após passarem incansáveis 21 dias em estratégia de cerco, Jerusalém foi capturada pelos persas e isso resultou na anexação territorial de Jerusalém. Depois de o exército Sassânida ter entrado em Jerusalém, a sagrada “Vera Cruz” foi roubada e enviada de volta para a capital sassânida como uma relíquia sagrada da guerra. A cidade conquistada e a Santa Cruz, permaneceriam nas mãos dos Sassânidas por mais quinze anos, até o Imperador Bizantino Heráclio a recuperar em 629.

 

f) O domínio árabe (séc. VII - séc. XI)

 

Em 638, o Califado Islâmico estendeu o seu domínio até Jerusalém. Nesse momento, Jerusalém foi declarada a terceira cidade mais sagrada do Islão depois de Meca e Medina, e referida como al Bait al-Muquddas. Mais tarde, será conhecida como al-Qods al-Sharif.

 

Jerusalém, representação do século XVI

 

Com a conquista árabe, os judeus foram autorizados a regressar à cidade. O Califa Omar (Rashidum Omar ibn al-Khattab) assinou um tratado com o Patriarca cristão monofisita Sofrónio, assegurando-lhe que os lugares sagrados cristãos de Jerusalém e a população cristã seriam protegidos ao abrigo do estado muçulmano. Omar foi conduzido até à Igreja do Santo Sepulcro, o lugar mais sagrado para os cristãos, mas o Califa recusou-se a rezar na igreja para que os muçulmanos não viessem a transformá-la em mesquita. Ele rezou à frente da igreja, onde veio a ser construída a Mesquita de Omar, que ainda hoje se encontra diante da porta da Igreja do Santo Sepulcro. De acordo com o bispo gaulês Arculf, que viveu em Jerusalém entre 679 e 688, a Mesquita de Omar era uma estrutura rectangular de madeira construída sobre ruínas que poderia acolher 3.000 fiéis.

 

O Califa Omíada Abd-el-Melek encomendou a construção da Cúpula da Rocha no final séc. VII. O historiador do séc. X, El Muqadasi, escreveu que Abd-el-Melek construiu o santuário a fim de competir com a grandeza das monumentais igrejas de Jerusalém.

 

Durante os quatro séculos seguintes, a proeminência de Jerusalém foi diminuindo enquanto os poderes árabes na região que disputavam entre si pelo controle da cidade.

 

Neste período, os muçulmanos começaram uma política discriminatória contra os “infiéis” e muitos asilos para os peregrinos foram fechados. A intervenção de Carlos Magno trouxe um momento de reflorescimento das obras cristãs.

 

Em 1009, o fanatismo do soberano fatimida el-Hakim, chamado “o sultão louco”, iniciou um período de forte intolerância religiosa e ordenou a destruição de todos os lugares santos cristãos incluindo a Basílica do Santo Sepulcro, perseguindo e maltratando os cristãos residentes e peregrinos.

 

É em resposta a isto que se inicia o processo das Cruzadas.

 

g) O Reino Franco de Jerusalém (séc. XI - séc. XII)

 

A 14 de Julho, de 1099, depois de um cerco começado a 7 de Junho, os Cruzados, que haviam partido da Europa em Agosto de 1096, finalmente conquistam Jerusalém. Os excessos foram muitos e a mortandade entre os habitantes da cidade foi muito grande, a ponto de o Arcebispo Guilherme de Tiro dizer que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.

 

A 22 de Julho, Godofredo de Bulhão foi eleito em concílio na Basílica do Santo Sepulcro Advocatus Sancti Sepulchri (Protector do Santo Sepulcro), recusando o título de Rei, pois não aceitaria ser coroado na cidade onde o Salvador fora corado de espinhos.

 

Uma das suas primeiras iniciativas é a criação de um corpo de clérigos que assegurasse o culto regular na Basílica do Santo Sepulcro: os Cónegos do Santo Sepulcro; e um corpo de cavaleiros que assegurasse a sua segurança. Nasce a Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.

 

Godofredo morreu no ano seguinte e seu irmão e sucessor, Balduíno I, foi coroado Rei de Jerusalém em Belém na noite de Natal.

 

Balduíno expandiu o Reino, capturando as cidades portuárias de Acre, Sídon e Beirute, e exerceu a sua suzerania sobre outros estados cruzados ao norte — o Condade de Edessa (que ele havia fundado), o Principado de Antioquia e o Condado de Trípoli. A população de origem europeia ocidental aumentou, com os reforços recebidos da Cruzada de 1101; um Patriarca Latino foi instalado em Jerusalém. As Cidades-Estado de Veneza, Pisa e Génova começaram a envolver-se nos assuntos do Reino, quando as suas frotas passaram a apoiar a captura de portos, onde foram autorizadas a formar distritos comerciais autónomos.

 

Balduíno morreu em 1118, sem deixar herdeiros, e sucedeu-lhe o seu primo, Balduíno de Bourg, Conde de Edessa. Este também foi um governante capaz e, embora tivesse sido feito prisioneiro pelos turcos várias vezes, as fronteiras do Reino continuaram a expandir-se, com a captura da cidade de Tiro em 1124.

 

Aos poucos, os habitantes de origem europeia começaram a adoptar modos orientais, aprendendo o grego e o árabe.

 

O reino baseava-se no sistema feudal, à semelhança da Europa à época, embora com diferenças: o modo de produção agrícola continuou a ter muçulmanos ou cristãos ortodoxos à frente, os quais reportavam nominalmente aos nobres latinos donos das terras; estes, porém, preferiam permanecer nos centros urbanos, em geral, e em Jerusalém, em particular. As comunidades agrícolas eram, portanto, relativamente autónomas e não deviam serviço militar (ao contrário do que ocorria com os vassalos na Europa). Com isso, os exércitos cruzados costumavam ser pequenos e recrutados dentre famílias francesas nas cidades.

 

O carácter urbano da região e a presença de mercadores italianos fizeram surgir uma economia mais comercial do que agrícola; a Palestina sempre fora um entreposto comercial e, agora, incluía rotas europeias.

 

Como a nobreza preferia residir em Jerusalém (e não nas suas respectivas terras), exercia uma influência grande sobre o rei e formavam a chamada Haute Cour (Alta Corte), uma forma primitiva de “parlamento”. Dentre as responsabilidades da corte, destacavam-se a confirmação da eleição do Rei, questões financeiras e o recrutamento de exércitos.

 

O problema da falta de soldados para o exército foi amenizado com a criação das Ordens Militares. Os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Hospitalários formaram-se nos primeiros anos do Reino. Embora seus quartéis-generais estivessem em Jerusalém, mantinham guarnecidos vastos castelos e adquiriam terras que outros nobres não pudessem mais manter. As Ordens Militares estavam sob controle directo do Papa, não do Rei: eram basicamente autónomas e não deviam, em tese, nenhum tipo de serviço militar ao Reino, embora na prática participassem de todas as grandes batalhas.

 

Em 1131, Balduíno II foi sucedido por sua filha, Melisende, que reinou juntamente com o marido, Fulco. Durante o seu reinado, Jerusalém conheceu o auge da expansão económica e artística. Fulco, um renomeado comandante militar, logrou conter a ameaça representada pelo Atabei de Mossul, Zengi. Mas a sua morte acidental em 1143 permitiu a Zengi tomar Edessa. Melisende, agora Regente em nome de seu primogénito Balduíno III, nomeou Manassés de Hierges como Condestável; em 1147 chegariam as tropas da Segunda Cruzada.

 

Balduíno III depôs sua mãe em 1153 mas restaurou-a no papel de Regente no ano seguinte. Também no mesmo ano, Balduíno logrou conquistar Ascalon aos fatimidas. Por outro lado, Nur-Al-Din unificou a Síria muçulmana ao tomar Damasco, agravando a ameaça contra os Cruzados.

 

Balduíno III morreu em 1162 e sucedeu-lhe seu irmão, Amalrico I, cujo reinado foi dedicado a disputar o controle do Egipto contra Nur-Al-Din e Saladino. Apesar do apoio do Imperador Bizantino, Manuel I Comneno, Amalrico não conseguiu o seu intento; a sua morte e a de Nur-Al-Din fortaleceram a posição de Saladino.

 

Sucedeu a Amalrico I o seu filho adolescente, Balduíno IV, que sofria de lepra. O reinado deste último assistiu à formação de facções que apoiavam Raimundo III de Trípoli (o “partido dos nobres”, que reunia os barões nativos) ou o cunhado incompetente do Rei, Guy de Lusignan (o “partido da corte”, apoiado pela família real).

 

Balduíno morreu em 1185 e sucedeu-lhe seu sobrinho menor, Balduíno V, filho de sua irmã Sibila. Balduíno V morreu menos de um ano depois e sua mãe assumiu o trono, juntamente com seu marido Guy de Lusignan. Este revelou-se um governante desastrado.

 

Seu aliado Reinaldo de Châtillon, Senhor da Transjordânia e da fortaleza de Kerak, provocou Saladino a declarar guerra e, em 1187, o exército do reino foi aniquilado na Batalha de Hattin. Nos anos seguintes, Saladino avançou sobre todo o Reino, excepto pelo porto de Tiro, bem defendido por Conrado de Monferrat.

 

A queda de Jerusalém comoveu a Europa e resultou na Terceira Cruzada. Graças aos esforços de Ricardo Coração-de-Leão, a maior parte das cidades costeiras da Síria, especialmente Acre, foi recuperada e o Tratado de Ramalá foi assinado com Saladino após a Batalha de Arsuf.

 

Conrado de Montferrat casou-se com Isabel, filha de Amalrico I, e foi eleito Rei, mas pouco depois foi morto por assassinos nizaritas. Isabel casou-se então com Henrique II de Champagne.

 

Durante os cem anos seguintes, o Reino de Jerusalém resignou-se a ser um pequeno estado ao longo da costa da Síria. A sua capital passou a ser Acre e o seu território incluía poucas cidades de monta (Beirute, Tiro).

 

Uma Quarta Cruzada foi organizada após o fracasso da terceira, mas resultou apenas no saque de Constantinopla, em 1204.

 

Em 1205, a filha menor de Conrado e Isabel, Maria de Montferrat, tornou-se Rainha e casou-se em seguida com João de Brienne, que logrou manter o Reino a salvo.

 

A Quinta Cruzada de 1217, contra Damieta, no Egipto, fracassou.

 

Em 1229, o Imperador Frederico II, que era Rei de Jerusalém devido ao seu casamento com a herdeira, recuperou a cidade por meio de um tratado com o Sultão Al-Kamil (Sexta Cruzada). Em 1244, os cristãos perdiam novamente a cidade.

 

No período entre 1229 e 1268, o Rei residiu na Europa. Os Reis faziam-se representar por Regentes. O título foi herdado por Conrado IV, Rei dos Romanos, filho de Frederico II e Iolanda de Jerusalém, e posteriormente por seu filho Conrado III de Jerusalém.

 

Ao longo do séc. XIII, os mamelucos tomaram aos poucos os territórios do Reino, até à queda de Acre, em 1291. O título de Rei de Jerusalém foi então reivindicado pelos Reis de Chipre e, até hoje, por diversos monarcas europeus.

 

h) Saladino e mamelucos (séc. XII - séc. XVI)

 

Saladino tomou Jerusalém a 2 de Outubro de 1187, após um cerco. Inicialmente, não pretendia garantir termos de amnistia aos ocupantes da cidade, até que Balian de Ibelin ameaçou matar todos os muçulmanos da cidade, estimado entre 3.000 e 5.000 pessoas, e destruir os templos sagrados do Islão na Esplanada do Templo se não fosse dada amnistia. Saladino consultou o seu conselho e esses termos foram aceites. Um resgate deveria ser pago por cada franco na cidade, fosse homem, mulher ou criança. De acordo com Imad-al-Din, aproximadamente 7.000 homens e 8.000 mulheres não puderam pagar por seu resgate e foram tornados escravos.

 

Como já foi mencionado, a Terceira Cruzada retomou a cidade de Acre em 1191. Depois de Ricardo I de Inglaterra ter executado os prisioneiros muçulmanos de Acre, Saladino retaliou matando todos os francos capturados entre 28 de Agosto e 10 de Setembro. Os exércitos de Saladino travaram combate com os exércitos rivais de Ricardo Coração-de-Leão na Batalha de Apolónia, a 7 de Setembro de 1191, na qual Saladino foi derrotado.

 

A relação entre Saladino e Ricardo era de um respeito cavalheiresco mútuo, assim como de rivalidade militar. Os dois chegaram a um acordo sobre Jerusalém no Tratado de Ramalá em 1192, pelo qual a cidade permaneceria em mãos muçulmanas, mas estaria aberta às peregrinações cristãs; o tratado reduzia o Reino Latino a uma estreita faixa costeira desde Tiro até Jafa.

 

Em 1244, Jerusalém foi saqueada pelos Tártaros Kharezmian, que dizimaram a população cristã da cidade e afastou os judeus, alguns dos quais foram reinstalados em Nablus.

 

Entre 1250 e 1517, Jerusalém foi governado pelos mamelucos, que impuseram um pesado imposto anual sobre os judeus e destruíram os lugares sagrados dos cristãos no Monte Sião.

 

i) O domínio otomano (1517 - 1917)

 

Em 1517, Jerusalém e caiu sob o domínio turco otomano, que permaneceu no controle da cidade até 1917. Como em grande parte do domínio otomano, Jerusalém permaneceu um provincial e importante centro religioso, e não participava da principal rota comercial entre Damasco e Cairo. No entanto, os turcos muçulmanos trouxeram muitas inovações. Em meados do séc. XIX, os otomanos construíram a primeira estrada pavimentada de Jaffa a Jerusalém, e em 1892 o caminho de ferro chegava à cidade.

 

Com a ocupação de Jerusalém por Muhammad Ali do Egipto em 1831, missões e consulados estrangeiros começaram a estabelecer-se na cidade. Em 1836, o Paxá Ibrahim permitiu aos judeus reconstruírem as quatro grandes sinagogas, entre eles a Hurya.

 

O controle turco foi reinstalado em 1840, mas muitos egípcios muçulmanos permaneceram em Jerusalém. Judeus de Argel e da África do Norte começaram a instalar-se na cidade, em número cada vez maior. Ao mesmo tempo, os otomanos construíram curtumes e matadouros perto dos lugares sagrados judeus e cristãos “para que um mau cheiro, sempre empeste os infiéis”. Nas décadas de 1840 e 1850, os poderes internacionais iniciaram um “braço-de-ferro” na Palestina, uma vez que tentaram ampliar a sua protecção ao longo do país para as minorias religiosas, uma luta realizada principalmente através de representantes consulares em Jerusalém. De acordo com o cônsul prussiano, a população em 1845 era de 16.410: 7.120 judeus, 5.000 muçulmanos, 3.390 cristãos, 800 soldados turcos e 100 europeus. O volume de peregrinos cristãos aumentou sob o domínio dos otomanos, duplicando a população da cidade pela época da Páscoa.

 

Na década de 1860, novos bairros começaram a surgir fora dos muros da Cidade Velha para aliviar a intensa sobrelotação e o pobre saneamento na cidade intramuros. O Complexo Russo e Mishkenot Sha’ananim foram fundados em 1860.

 

j) O Protectorado Britânico e a Guerra de 1948

 

Em 1917, depois da Batalha de Jerusalém, o exército britânico, liderado pelo Gen. Edmund Allemby, capturou a cidade. E, em 1922, a Liga das Nações sob a Conferência de Lausanne confiou ao Reino Unido a administração da Palestina.

 

De 1922 a 1948 a população total da cidade passou de 52.000 para 165.000, sendo dois terços de judeus e um terço de árabes (muçulmanos e cristãos). A situação entre árabes e judeus na Palestina não foi calma. Em Jerusalém, em especial nos motins ocorridos em 1920 e em 1929. Sob o domínio britânico, novos subúrbios foram construídos no oeste e na parte norte da cidade e instituições de ensino superior, como a Universidade Hebraica, foram fundadas.

 

À medida que o Protectorado Britânico da Palestina ia chegando ao seu termo, o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947 recomendou “a criação de um regime internacional, em especial na cidade de Jerusalém, constituindo-a como um corpus separatum no âmbito da administração das Nações Unidas”. O regime internacional deveria continuar em vigor por um período de dez anos, e seria realizado um referendo pelo qual os moradores de Jerusalém iriam votar para decidir o futuro regime da cidade. No entanto, este plano não foi implementado, porque a Guerra de 1948 eclodiu enquanto os britânicos se retiravam da Palestina e Israel declarou a sua independência.

 

A guerra levou ao deslocamento das populações árabe e judaica na cidade. Os 1.500 residentes do Bairro Judeu da Cidade Velha foram expulsos e algumas centenas tomadas como prisioneiros quando a Legião Árabe capturou o bairro a 28 de Maio. Moradores de vários bairros e aldeias árabes a oeste da Cidade Velha saíram com a chegada da guerra, mas alguns permaneceram e foram expulsos ou mortos, como em Lifta ou Deir Yassin.

 

k) Da Guerra de 1948 até “hoje”

 

A Guerra de 1948 terminou com Jerusalém dividida entre Israel e a Jordânia (então Cisjordânia), ficando a Cidade Velha inteiramente do lado jordano. O Armistício de 1949 criou uma linha de cessar-fogo que atravessava o centro da cidade e deixou o Monte Scopus como um exclave israelita. Arame farpado e barreiras de cimento separaram Jerusalém de leste a oeste, e escaramuças militares frequentemente ameaçaram o cessar-fogo. Após a criação do Estado de Israel, Jerusalém foi declarada sua capital. A Jordânia anexou formalmente Jerusalém Oriental, em 1950, sujeitando-a à lei jordana, uma atitude que só foi reconhecida pelo Reino Unido e Paquistão.

 

A Jordânia assumiu o controle dos lugares sagrados na Cidade Velha. Oposto aos termos do acordo, foi negado o acesso dos israelitas aos locais sagrados judaicos, muitos dos quais foram profanados, e apenas permitiram o acesso muito limitado aos locais sagrados cristãos. Durante este período, a Cúpula da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa sofreram grandes renovações.

 

Durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental e afirmou soberania sobre toda a cidade. O acesso aos lugares sagrados judeus foi restabelecido, enquanto o Monte do Templo permaneceu sob a jurisdição de um islâmico waqf. O Bairro Marroquino, que era localizado adjacente ao Muro das Lamentações, foi desocupado e destruído para abrir caminho a uma praça para aqueles que visitam o muro. Desde a guerra, Israel tem expandido as fronteiras da cidade e estabeleceu um “anel” de bairros judeus em terrenos vagos a leste da Linha Verde.

 

No entanto, a aquisição de Jerusalém Oriental recebeu duras críticas internacionais. Na sequência da aprovação da Lei de Jerusalém, que declarou Jerusalém “completa e unida”, capital de Israel, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que declarava a lei como “uma violação do direito internacional” e solicitou que todos os Estados-membros retirassem as suas embaixadas da cidade.

 

O status da cidade, e especialmente os seus lugares sagrados, continuam a ser uma questão central no conflito israelo-palestiniano. Colonos judeus ocuparam lugares históricos e construíram suas casas em terras confiscadas a palestinianos, a fim de expandir a presença judaica na parte oriental de Jerusalém, enquanto líderes islâmicos têm insistido que os judeus não têm qualquer laço histórico com Jerusalém. Os palestinianos encaram Jerusalém Oriental como a capital do Estado Palestiniano, e as fronteiras da cidade têm sido assunto de conversas internacionais.

 

BASÍLICA DO SANTO SEPULCRO (http://www.360tr.com/kudus/kiyamet_eng/index.html)

 

A Basílica do Santo Sepulcro foi construída pelo Imperador Constantino em 333 no lugar marcado por S. Helena na sua visita de 326. O lugar foi marcado seguindo as memórias do lugar como um lugar de execuções, e devido à existência de um jardim, sepulturas e fragmentos de placas de madeira.

 

 

Interior da Basílica do Santo Sepulcro, pomenor

 

A enorme basílica foi arrasada pela invasão persa (614). A nova igreja foi construída sobre as suas ruínas, tendo ficado muitos poucos restos das antigas fundações. No entanto, esta basílica está ilustrada no mapa de mosaico bizantino de Madabá, que foi descoberto em 1884 numa igreja bizantina de Madabá, na Jordânia. Este mapa antigo, feito no séc. VI, mostra o mapa da Terra Santa, com dezenas de lugares ilustrados, incluindo Jerusalém e a basílica original que outrora ali se erguia. Tinha três portas na fachada, partes das quais ainda se encontram no actual edifício.

 

Depois da conquista de Jerusalém pelos árabes (638), a basílica foi parcialmente restaurada numa escala menor. Inicialmente foi respeitado por novas leis que respeitavam Jesus e o lugar da sua sepultura. No entanto, foi novamente arrasado em 1010 pelos governantes árabes quando se tornaram mais radicais no que diz respeito à sua fé. Esta destruição foi uma das causas que levou às Cruzadas, que desejavam retomar o controlo da Cidade Santa e reconstruir a igreja.

 

Em 1099 os Cruzados tomaram a cidade e mantiveram-na até 1187. Restauraram a basílica e sagraram-na em 1149 com o nome de Santo Sepulcro (antes chamava-se Anástasis, ou da Ressurreição). Depois da rendição e queda da cidade às mãos de Saladino, os árabes respeitaram a igreja e a chave foi entregue a uma família árabe (o que acontece até aos dias de hoje).

 

A Terceira Cruzada (1189-1192) tentou reconquistar a Cidade Santa e retomar o controlo da igreja, mas falhou. No entanto, um tratado entre Ricardo Coração de Leão e Saladino (1192-1195) permitiu aos peregrinos visitarem a igreja. Outras cinco Cruzadas (1204-1270) também falharam a reconquista da cidade.

 

Em 1555 os Franciscanos fizeram alguns restauros na igreja, uma vez que ela tinha sido negligenciada apesar no número crescente de peregrinos. Reconstruíram a Edícula, aumentando-a de forma a criar uma antecâmara. Depois dos restauros de 1555, o controlo da igreja oscilou entre os Franciscanos e os Ortodoxos, dependendo de qual das comunidades conseguia um decreto favorável da Sublime Porta, muitas vezes obtido através de subornos, e eram frequentes confrontos violentos. Em 1767, preocupada com as rixas, a Sublime Porta emitiu um decreto dividindo a igreja entre os pretendentes.

 

Em 1808 um incêndio danificou gravemente o edifício, causando a derrocada da cúpula da Rotunda destruindo a decoração exterior da Edícula. A Rotunda e o exterior da Edícula foram reconstruídos em 1809-1810 pelo arquitecto Komminos de Mitilene no então estilo barroco otomano. O incêndio não chegou ao interior da Edícula e as decorações de mármore do Sepulcro datam principalmente do restauro de 1555, embora o interior da antecâmara, agora conhecida como Capela do Anjo, foi parcialmente reconstruído numa planta quadrangular, substituindo a parede oeste semicircular.

 

 A entrada principal para a Basílica do Santo Sepulcro, após incêndio de 1808, segundo uma gravura contemporânea.

 

Um outro decreto do Sultão de 1853 solidificou a existente divisão territorial entre as comunidades e estabeleceu o status quo sobre os processoa “para permanecer para sempre”, o que causou diferenças de opinião no que diz respeito à manutenção e pequenas alterações, incluindo o desacordo sobre a remoção da escada que se encontra no exterior debaixo de uma das janelas (essa escada ainda hoje se encontra no mesmo lugar).

 

 Interior da Basílica do Santo Sepulcro, pormenor 

 

O revestimento de mármore rosa aplicado à Edícula por Komminos deteriorou-se gravemente e está a soltar-se da construção; desde 1947 é sustentada por uma estrutura metálica instalada pelo Protectorado Britânico. Ainda não se conseguiu acordo quanto ao seu restauro.

 

A actual cúpula data de 1870, embora tenha sido restaurado entre 1994 e 1997, como parte de um plano recente de grandes restauros que decorrem desde 1959. Durante os trabalhos de restauro e escavações que decorreram entre 1973 e 1978 foi encontrada uma área que tinha sido originalmente uma pedreira de calcário branco. A leste da Capela de S. Helena, as escavações descobriram um buraco contendo um desenho de um barco romano datado do séc. II d.C., dois muros baixos que, supostamente, suportariam o templo do séc. II a.C. de Adriano e um outro da segunda metade do séc. IV que suportaria a basílica de Constantino. As autoridades arménias converteram estes espaços arqueológicos na Capela de S. Vartan e criaram um passadiço artificial sobre a pedreira a norte da capela, de forma a que a nova capela pudesse ter acesso (com autorização) a partir da Capela de S. Helena.

 

Os principais custódios da Basílica do Santo Sepulcro são os Greco-Ortodoxos, os Arménios e os Católicos Latinos, cabendo a “parte de leão” aos Greco-Ortodoxos. No séc. XIX, os Ortodoxos Coptas, Etíopes e Sírios conseguiram também algumas responsabilidades que incluem alguns altares e outras construções dentro e à volta do edifício. Horários e lugares de celebração para cada comunidade estão rigorosamente regulados nos espaços comuns.

 

O estabelecimento do status quo em 1853 não pôs fim a alguma violência que continua a acontecer de vez em quando até aos dias de hoje.

 

De acordo com o status quo, os locais que não estão designados como espaços comuns podem ser reorganizados sem o consentimento das outras comunidades. A falta de acordo no que diz respeito às zonas comuns leva muitas vezes à negligência e à falta de restauros necessários. Um exemplo disso é a falta de acordo no restauro da Edícula.

 

Nenhuma das comunidades controla a entrada principal. Em 1192, Saladino encarregou duas famílias muçulmanas vizinhas. À família Joudeh foi entregue a chave e à Nusseibeh, que tinha a custódia da igreja desde o tempo do Califa Omar em 637, foi dada a guarda da porta. Este sistema dura até aos dias de hoje. Duas vezes por dia um membro da família Joudeh leva a chave até à porta que é fechada e aberta por um membro da família Nusseibeh. Os Franciscanos são a única comunidade que permanece na Igreja, ficando trancados no interior durante a noite sem qualquer possibilidade de acesso ao exterior durante a noite.

 

In Guia do Peregrino, coligido pelo Cav. Padre Miguel Soares de Albergaria d’Aguiar, Cerimoniário Eclesiástico Adjunto da Lugar-Tenência de Portugal

 


JERUSALÉM

 

 Jerusalém, representação do século XIV  

 

ETIMOLOGIA

 

Jerusalém: em hebraico moderno:ירושלים (transliteração: Yerushaláyim); em hebraico clássico: ירושלם; em árabe: القدس (transliteração: al-Quds); em grego Ιεροσόλυμα (transliteração: Ierossólyma).

 

Ainda que a origem do nome Yerushaláyim seja incerta, várias interpretações linguísticas têm sido propostas. Alguns acreditam que é uma combinação das palavras em hebraico yerusha (legado) e Shalom (paz), ou seja, legado da paz. Outros salientam que Shalom é um cognato do nome hebraico Shlomo, ou seja, o Rei Salomão, o construtor do Primeiro Templo. Alternativamente, a segunda parte da palavra seria Salém (Shalem literalmente “completo” ou “em harmonia”), um nome recente de Jerusalém; isto aparece no livro de Génesis (14, 18). Outros citam as Cartas de Amarna, onde o nome acádico da cidade aparece como Urušalim, um cognato do Hebreu Ir Shalem. Alguns acreditam que há uma conexão com Shalim, a divindade beneficente conhecida dos mitos ugaríticos como a personificação do crepúsculo.

 

De acordo com um midrash (Bereshit Rabá), Abraão veio até a cidade, e a chamou de Shalem, depois de resgatar Lot. Abraão perguntou ao rei e ao mais alto sacerdote Melquisedec se podiam abençoá-lo. Este encontro foi comemorado pela adição do prefixo Yeru (derivado de Yireh, o nome que Abraão deu ao Monte do Templo) produzindo Yeru-Shalem, significando a “cidade de Salém”, ou “fundada por Salém”. Shalem significa “completo” ou “sem defeito”. Por isso, Yerushaláyim significa a “cidade perfeita”, ou “a cidade daquele que é perfeito”. A terminação -im indica o plural na gramática hebraica e -ayim a dualidade, possivelmente referindo-se ao facto de a cidade se situar em duas colinas. O pronunciamento da última sílaba como -ayim parece ser uma modificação posterior, a qual não havia aparecido no tempo da Septuaginta.

 

Alguns acreditam que a cidade chamada de Rušalimum ou Urušalimum que aparece nos achados do Antigo Egipto é a primeira referência a Jerusalém. Os gregos adicionaram o prefixo hiero (“sagrada”) e chamaram-na Hierosolyma. Para os árabes, Jerusalém é al-Quds (“A Sagrada”). Foi chamada de Jebus (Yevus) pelos jebusitas. Tzion (“Sião”) referia-se inicialmente a parte da cidade, mas depois passou a significar a cidade como um todo. Durante o reinado de David, ficou conhecida como Yir David (a cidade de David).

 

HISTÓRIA

 

Cerâmicas indicam a ocupação de Ophel (“Monte”), dentro da actual Jerusalém, desde a Idade do Cobre, cerca do Quarto Milénio a.C., com evidências de assentamentos permanentes durante o começo da Idade do Bronze, 3000-2800 a.C. Os Textos de Execração (cerca do séc. XIX a.C.), que se referem a uma cidade chamada Roshlamem ou Rosh-ramen e as Cartas de Amarna (cerca do séc: XIV a.C.) podem ser os primeiros a falar da cidade. Alguns arqueólogos acreditam que Jerusalém, como cidade, foi fundada pelos povos semitas ocidentais com assentamentos organizados em cerca de 2600 a.C.. Segundo a tradição judaica, a cidade foi fundada por Sem, filho de Noé, e Heber (bisneto de Sem), antepassados de Abraão. Nos relatos bíblicos, Jerusalém era uma cidade jebusita até ao séc. X a.C., quando David a conquistou e fez dela a capital do Reino Unido de Israel e Judá (cerca de 1000 a.C.; cf. 2 Sam 5, 6-9). Recentes escavações de uma grande estrutura de pedra são interpretadas por alguns arqueólogos como crédito à narrativa bíblica.

 

a) Origens (1200-1000 a.C.)

 

A referência mais antiga do nome Israel provém do final da Idade do Bronze Tardio, numa inscrição egípcia de cerca de 1207 a.C. A Estela de Merneptah foi erguida para comemorar a vitória contras os Líbios e os Povos do Mar, mas inclui um pequeno poema ou hino que enumera as vitórias contra várias cidades de Canaã. Perto do final, aparece a seguinte linha: «Israel foi devastado e a sua descendência não existe mais». Este Israel é identificado como um povo e é bastante provável que se situassem na região norte das terras altas do centro, território que viria a ser mais tarde parte do reino bíblico de Israel.

 

Nos princípios deste período ? cerca de 1200 a.C. ?, as terras altas centrais eram pouco povoadas, com cerca de 25 povoações e uma população de cerca de 12.000; passados cerca de 200 anos, o número de povoações cresceu para 300 e a população para 55.000. No plano político, não há nas terras altas qualquer sinal de autoridade centralizada; no religioso, não existe nenhum sinal de templos, altares, ou culto centralizado em geral (apesar de terem sido descobertos objectos de culto associados ao deus cananeu El); a cerâmica permanece fortemente na tradição do Bronze Tardio; e o alfabeto usado (embora tenham sido encontrados muito poucos exemplares) é o do cananeu primitivo. A quase única marca que distingue as povoações “israelitas” das cananeias é a ausência de ossos de porco, mas se isto pode ser tido como uma marca étnica ou devido a outros factores permanece matéria de discussão.

 

b) Idade do Ferro (1000-550 a.C.)

 

O Templo de Salomão (Primeiro Templo)

 

David reinou até 970 a.C. Sucedeu-lhe seu filho Salomão, que construiu o Templo Sagrado no Monte Moriá. O Templo de Salomão (mais tarde conhecido como o Primeiro Templo), passou a desempenhar um papel central na história judaica como o lugar onde estava guardada a Arca da Aliança. Ao longo de mais de 600 anos, até à conquista babilónica, em 587 a.C., Jerusalém foi a capital política e religiosa dos judeus. Este período é conhecido na história como o Período do Primeiro Templo. Após a morte de Salomão (c. 930 a.C.), as dez tribos do norte uniram-se para formar o Reino de Israel. Sob a liderança da Casa de David e Salomão, Jerusalém continuou a ser a capital do Reino de Judá.

 

Israel / Samaria

 

Uma inscrição do faraó Shoshenq I, provavelmente identificável com o bíblico Sesac (cf. 1 Rs 14, 25), apresenta uma série de campanhas dirigidas, aparentemente, na área imediatamente a norte de Jerusalém na segunda metade do séc. X a.C.. Cerca de cem anos mais tarde, o rei assírio Salmanasar III nomeia Acab de Israel entre os seus inimigos na batalha de Qarqar (853 a.C.), enquanto que na Estela Mesha (cerca de 830 a.C.) o rei de Moab celebra o seu sucesso ao tirar da opressão a “Casa de Omri” (i.e. Israel). De modo semelhante, a Estela Tel Dan fala da morte de um rei de Israel, provavelmente Jorão, às mãos de um rei arameu por volta de 841 a.C.. Escavações na Samaria, a capital israelita, reforça ainda mais a impressão de um reino poderoso e centralizado na região norte das terras altas durante os Sécs. IX e VIII a.C.. Na segunda metade do séc. VIII a.C., o rei Oséias, de Israel revoltou-se contra os assírios e foi derrotado (cerca de 722 a.C.). Parte da população foi deportada e foi substituída por colonos estrangeiros, passando Israel a ser uma província assíria.

 

Judá / Jerusalém

 

A primeira prova da existência de um reino organizado na região sul das terras altas provém da Estela Tel Dan, de meados do séc. IX a.C., que menciona a morte de um rei da “Casa de David” juntamente com o rei de Israel; a Estela Mesha (também da mesma época) parece também mencionar a Casa de David, embora a reconstrução que esta leitura permite é discutida. É geralmente assumido que esta “Casa de David” é a mesma que a dinastia bíblica, mas as evidências arqueológicas das escavações indicam que, durante os sécs. X e IX a.C., Jerusalém era apenas uma de quatro grandes povoações na região, sem nenhum sinal de primazia sobre as suas vizinhas. A reconstrução dos acontecimentos feita pela escola antiga é a de que isto deveu-se ao influxo de refugiados de Israel a seguir à sua conquista pelos assírios (cerca de 722 a.C.), mas a nova visão é a de que isso reflecte um esforço conjunto entre a Assíria e o rei de Jerusalém para estabelecer Judá como um estado vassalo assírio exercendo o seu controlo sobre a valiosa indústria do azeite. O súbito colapso do poder assírio na segunda metade do séc. VII a.C. levou a uma tentativa infrutífera de independência liderada pelo rei Jozias, seguida pela destruição de Jerusalém pelo sucessor da Assíria, o Império neo-Babilónico (587/586 a.C.).

 

c) Os períodos Babilónico e Persa (586-333 a.C.)

 

Em 586 a.C., os babilónios, sob o rei Nabucodosor II, derrotou o Reino de Judá, tomou Jerusalém e destruiu o Primeiro Templo. Os textos bíblicos ( 2 Rs; 2 Cr; Jer; bem como algumas referências em Ez e Dn) dizem que, com o cativeiro da Babilónia, apenas os mais pobres forma deixados em Judá, agora a província babilónica de Yehud. Poucos anos depois, ainda segundo a Bíblia, o governador de Yehud foi assassinado pelos seus rivais, desencadeando um êxodo de refugiados para o Egipto. Assim, por volta de 580 a.C. o povo de Judá podia ser encontrado em três locais separados: a elite na Babilónia; no Egipto; e um resto em Judá.

 

O exílio da Babilónia durou cerca de 50 anos (70 até ao regresso definitivo com a reconstrução do Templo). No entanto, quando Ciro, o Grande, da Pérsia conquistou Babilónia (tradicionalmente em 538 a.C.) e ao longo das décadas seguintes, alguns dos exilados puderam voltar para Jerusalém, mas a maioria permaneceu na Mesopotâmia. As relações entre os retornados e aqueles que encontram na sua terra parecem ter sido tensas: por mais de um século a capital administrativa manteve-se em Mizpah, no território de Benjamim, e os habitantes do norte (antes Israel, agora Samaria) opuseram-se à reconstrução das muralhas e do Templo em Jerusalém. Não obstante, o Templo foi reconstruído e dedicado no sexto ano de Dario (516/515 a.C.) devido aos esforços de Neemias e Esdras. Pouco se sabe da província de Yehud Medinata, embora seja claro que, como era normal no Império Persa, gozava de um grau considerável de autonomia interna.

 

d) Os períodos Helenístico e Romano (333 a.C. - séc. VII d.C.)

 

Em 331 a.C., Alexandre Magno conquistou o Império Persa. Com a sua morte, em 323 a.C., o seu Império desintegrou-se e a província de Yehud passou afazer parte do Reino do Egipto, governado pela dinastia ptolemaica. O domínio ptolemaico era brando, e Ptolemeu II Filadelfo (281-246 a.C.) promoveu a cultura judaica, patrocinando a Septuaginta, tradução da Torah em hebraico para grego. Este período viu também o começo dos fariseus e de outros partidários do Segundo Templo judeu, como os saduceus e os essénios. Mas no início do séc. II a.C., Yehud caiu sob o domínio do rei sírio selêucida Antíoco IV Epifânio (174-163 a.C.), que, contrastando com a tolerância manifestada pelos Ptolemeus, procurou a completa helenização dos judeus. A sua profanação do Templo fez deflagrar uma rebelião nacional, que terminou com a expulsão dos sírios e a re-consagração do Templo com os Macabeus.

 

O reino estabelecido pelos Macabeus foi uma séria tentativa para reavivar o Reino de Judá descrito na Bíblia: uma monarquia judaica governada a partir de Jerusalém e estendendo-se por todos os territórios outrora governados por David e Salomão. De forma a levar a cabo este projecto, os reis Hasmoneus conquistaram os territórios de Moab, Edom e Amon, bem como o reino perdido de Israel.

 

Em 64 a.C., o general romano Pompeu conquistou Jerusalém e fez do reino judaico um cliente de Roma. Em 57-55 a.C. Aulo Gabínio, procônsul da Síria, dividiu-o entre Galileia, Samaria e Judeia, com cinco distritos de Sinédrio. Em 40-39 a.C. Herodes, o Grande, foi nomeado rei dos judeus pelo Senado romano. Herodes dedicou-se a desenvolver e embelezar a Jerusalém: construiu muralhas, torres e palácios e expandiu o Templo, reforçando o pátio com blocos de pedra que pesavam até 100 toneladas, redobrando a área do Templo. Em 6 d.C., o seu sucessor, Herodes Arquelau, etnarca da Judeia, foi deposto pelo Imperador Augusto e a Samaria, a Judeia e a Idumeia foram anexadas como província de Iudæa sob administração directa romana.

 

Em 66 d.C. os judeus revoltaram-se contra Roma (a Grande Revolta Judaica). A revolta foi esmagada e o Templo destruído em 70 d.C.; mais de 100.000 judeus foram mortos durante o cerco de Jerusalém, perto de outros tantos foram levados para Roma como escravos, e muito outros fugiram para a Mesopotâmia e outros países. Em 130 d.C., Adriano romanizou Jerusalém, dando-lhe o nome de Ælia Capitolina. Em 132 começou uma segunda revolta, liderada por Simão bar Kokhba (a Revolta de Bar Kokhba), e foi declarado um estado independente de Israel. Também esta revolta foi reprimida em 135 d.C.. Como medida punitiva, Adriano proibiu os judeus de entrarem na cidade e reorganizou a Judeia como parte da província Sírio-Palesti-niana. A proibição de entrada dos judeus em Ælia Capitolina durou até ao séc. IV.

 

Nos cinco séculos seguintes à Revolta de Bar Kokhba, a cidade permaneceu sob domínio romano (depois, bizantino). Durante o século IV, o Imperador Constantino I mandou construiu alguns edifícios cristãos em Jerusalém, como a Basílica do Santo Sepulcro. Jerusalém atingiu o auge em tamanho e população no final do período do Segundo Templo: a cidade estendia-se por 2 Km2 e tinha uma população de 200 mil pessoas. A partir de Constantino até ao séc. VII, os judeus foram proibidos em Jerusalém, a não ser uma vez por ano, a partir de cerca de 430, quando a mulher do Imperador Teodósio II, Eudócia, consegue permissão para que venham a Jerusalém para a comemoração da destruição do Templo.

 

e) As guerras romano-persas (séc. VII)

 

No período de algumas décadas, Jerusalém trocou de mãos entre persas e romanos, até voltar à mão dos romanos mais uma vez. Depois, do avanço do comandante sassânida Cosroes II no início do séc. VII sobre os domínios bizantinos, avançando através da Síria, os generais sassânidas Shahrbaraz e Shahin atacaram a cidade de Jerusalém (persa: Dej Houdkh), então controlada pelos bizantinos.

 

No Cerco de Jerusalém em 614, após passarem incansáveis 21 dias em estratégia de cerco, Jerusalém foi capturada pelos persas e isso resultou na anexação territorial de Jerusalém. Depois de o exército Sassânida ter entrado em Jerusalém, a sagrada “Vera Cruz” foi roubada e enviada de volta para a capital sassânida como uma relíquia sagrada da guerra. A cidade conquistada e a Santa Cruz, permaneceriam nas mãos dos Sassânidas por mais quinze anos, até o Imperador Bizantino Heráclio a recuperar em 629.

 

f) O domínio árabe (séc. VII - séc. XI)

 

Em 638, o Califado Islâmico estendeu o seu domínio até Jerusalém. Nesse momento, Jerusalém foi declarada a terceira cidade mais sagrada do Islão depois de Meca e Medina, e referida como al Bait al-Muquddas. Mais tarde, será conhecida como al-Qods al-Sharif.

 

Jerusalém, representação do século XVI

 

Com a conquista árabe, os judeus foram autorizados a regressar à cidade. O Califa Omar (Rashidum Omar ibn al-Khattab) assinou um tratado com o Patriarca cristão monofisita Sofrónio, assegurando-lhe que os lugares sagrados cristãos de Jerusalém e a população cristã seriam protegidos ao abrigo do estado muçulmano. Omar foi conduzido até à Igreja do Santo Sepulcro, o lugar mais sagrado para os cristãos, mas o Califa recusou-se a rezar na igreja para que os muçulmanos não viessem a transformá-la em mesquita. Ele rezou à frente da igreja, onde veio a ser construída a Mesquita de Omar, que ainda hoje se encontra diante da porta da Igreja do Santo Sepulcro. De acordo com o bispo gaulês Arculf, que viveu em Jerusalém entre 679 e 688, a Mesquita de Omar era uma estrutura rectangular de madeira construída sobre ruínas que poderia acolher 3.000 fiéis.

 

O Califa Omíada Abd-el-Melek encomendou a construção da Cúpula da Rocha no final séc. VII. O historiador do séc. X, El Muqadasi, escreveu que Abd-el-Melek construiu o santuário a fim de competir com a grandeza das monumentais igrejas de Jerusalém.

 

Durante os quatro séculos seguintes, a proeminência de Jerusalém foi diminuindo enquanto os poderes árabes na região que disputavam entre si pelo controle da cidade.

 

Neste período, os muçulmanos começaram uma política discriminatória contra os “infiéis” e muitos asilos para os peregrinos foram fechados. A intervenção de Carlos Magno trouxe um momento de reflorescimento das obras cristãs.

 

Em 1009, o fanatismo do soberano fatimida el-Hakim, chamado “o sultão louco”, iniciou um período de forte intolerância religiosa e ordenou a destruição de todos os lugares santos cristãos incluindo a Basílica do Santo Sepulcro, perseguindo e maltratando os cristãos residentes e peregrinos.

 

É em resposta a isto que se inicia o processo das Cruzadas.

 

g) O Reino Franco de Jerusalém (séc. XI - séc. XII)

 

A 14 de Julho, de 1099, depois de um cerco começado a 7 de Junho, os Cruzados, que haviam partido da Europa em Agosto de 1096, finalmente conquistam Jerusalém. Os excessos foram muitos e a mortandade entre os habitantes da cidade foi muito grande, a ponto de o Arcebispo Guilherme de Tiro dizer que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.

 

A 22 de Julho, Godofredo de Bulhão foi eleito em concílio na Basílica do Santo Sepulcro Advocatus Sancti Sepulchri (Protector do Santo Sepulcro), recusando o título de Rei, pois não aceitaria ser coroado na cidade onde o Salvador fora corado de espinhos.

 

Uma das suas primeiras iniciativas é a criação de um corpo de clérigos que assegurasse o culto regular na Basílica do Santo Sepulcro: os Cónegos do Santo Sepulcro; e um corpo de cavaleiros que assegurasse a sua segurança. Nasce a Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém.

 

Godofredo morreu no ano seguinte e seu irmão e sucessor, Balduíno I, foi coroado Rei de Jerusalém em Belém na noite de Natal.

 

Balduíno expandiu o Reino, capturando as cidades portuárias de Acre, Sídon e Beirute, e exerceu a sua suzerania sobre outros estados cruzados ao norte — o Condade de Edessa (que ele havia fundado), o Principado de Antioquia e o Condado de Trípoli. A população de origem europeia ocidental aumentou, com os reforços recebidos da Cruzada de 1101; um Patriarca Latino foi instalado em Jerusalém. As Cidades-Estado de Veneza, Pisa e Génova começaram a envolver-se nos assuntos do Reino, quando as suas frotas passaram a apoiar a captura de portos, onde foram autorizadas a formar distritos comerciais autónomos.

 

Balduíno morreu em 1118, sem deixar herdeiros, e sucedeu-lhe o seu primo, Balduíno de Bourg, Conde de Edessa. Este também foi um governante capaz e, embora tivesse sido feito prisioneiro pelos turcos várias vezes, as fronteiras do Reino continuaram a expandir-se, com a captura da cidade de Tiro em 1124.

 

Aos poucos, os habitantes de origem europeia começaram a adoptar modos orientais, aprendendo o grego e o árabe.

 

O reino baseava-se no sistema feudal, à semelhança da Europa à época, embora com diferenças: o modo de produção agrícola continuou a ter muçulmanos ou cristãos ortodoxos à frente, os quais reportavam nominalmente aos nobres latinos donos das terras; estes, porém, preferiam permanecer nos centros urbanos, em geral, e em Jerusalém, em particular. As comunidades agrícolas eram, portanto, relativamente autónomas e não deviam serviço militar (ao contrário do que ocorria com os vassalos na Europa). Com isso, os exércitos cruzados costumavam ser pequenos e recrutados dentre famílias francesas nas cidades.

 

O carácter urbano da região e a presença de mercadores italianos fizeram surgir uma economia mais comercial do que agrícola; a Palestina sempre fora um entreposto comercial e, agora, incluía rotas europeias.

 

Como a nobreza preferia residir em Jerusalém (e não nas suas respectivas terras), exercia uma influência grande sobre o rei e formavam a chamada Haute Cour (Alta Corte), uma forma primitiva de “parlamento”. Dentre as responsabilidades da corte, destacavam-se a confirmação da eleição do Rei, questões financeiras e o recrutamento de exércitos.

 

O problema da falta de soldados para o exército foi amenizado com a criação das Ordens Militares. Os Cavaleiros Templários e os Cavaleiros Hospitalários formaram-se nos primeiros anos do Reino. Embora seus quartéis-generais estivessem em Jerusalém, mantinham guarnecidos vastos castelos e adquiriam terras que outros nobres não pudessem mais manter. As Ordens Militares estavam sob controle directo do Papa, não do Rei: eram basicamente autónomas e não deviam, em tese, nenhum tipo de serviço militar ao Reino, embora na prática participassem de todas as grandes batalhas.

 

Em 1131, Balduíno II foi sucedido por sua filha, Melisende, que reinou juntamente com o marido, Fulco. Durante o seu reinado, Jerusalém conheceu o auge da expansão económica e artística. Fulco, um renomeado comandante militar, logrou conter a ameaça representada pelo Atabei de Mossul, Zengi. Mas a sua morte acidental em 1143 permitiu a Zengi tomar Edessa. Melisende, agora Regente em nome de seu primogénito Balduíno III, nomeou Manassés de Hierges como Condestável; em 1147 chegariam as tropas da Segunda Cruzada.

 

Balduíno III depôs sua mãe em 1153 mas restaurou-a no papel de Regente no ano seguinte. Também no mesmo ano, Balduíno logrou conquistar Ascalon aos fatimidas. Por outro lado, Nur-Al-Din unificou a Síria muçulmana ao tomar Damasco, agravando a ameaça contra os Cruzados.

 

Balduíno III morreu em 1162 e sucedeu-lhe seu irmão, Amalrico I, cujo reinado foi dedicado a disputar o controle do Egipto contra Nur-Al-Din e Saladino. Apesar do apoio do Imperador Bizantino, Manuel I Comneno, Amalrico não conseguiu o seu intento; a sua morte e a de Nur-Al-Din fortaleceram a posição de Saladino.

 

Sucedeu a Amalrico I o seu filho adolescente, Balduíno IV, que sofria de lepra. O reinado deste último assistiu à formação de facções que apoiavam Raimundo III de Trípoli (o “partido dos nobres”, que reunia os barões nativos) ou o cunhado incompetente do Rei, Guy de Lusignan (o “partido da corte”, apoiado pela família real).

 

Balduíno morreu em 1185 e sucedeu-lhe seu sobrinho menor, Balduíno V, filho de sua irmã Sibila. Balduíno V morreu menos de um ano depois e sua mãe assumiu o trono, juntamente com seu marido Guy de Lusignan. Este revelou-se um governante desastrado.

 

Seu aliado Reinaldo de Châtillon, Senhor da Transjordânia e da fortaleza de Kerak, provocou Saladino a declarar guerra e, em 1187, o exército do reino foi aniquilado na Batalha de Hattin. Nos anos seguintes, Saladino avançou sobre todo o Reino, excepto pelo porto de Tiro, bem defendido por Conrado de Monferrat.

 

A queda de Jerusalém comoveu a Europa e resultou na Terceira Cruzada. Graças aos esforços de Ricardo Coração-de-Leão, a maior parte das cidades costeiras da Síria, especialmente Acre, foi recuperada e o Tratado de Ramalá foi assinado com Saladino após a Batalha de Arsuf.

 

Conrado de Montferrat casou-se com Isabel, filha de Amalrico I, e foi eleito Rei, mas pouco depois foi morto por assassinos nizaritas. Isabel casou-se então com Henrique II de Champagne.

 

Durante os cem anos seguintes, o Reino de Jerusalém resignou-se a ser um pequeno estado ao longo da costa da Síria. A sua capital passou a ser Acre e o seu território incluía poucas cidades de monta (Beirute, Tiro).

 

Uma Quarta Cruzada foi organizada após o fracasso da terceira, mas resultou apenas no saque de Constantinopla, em 1204.

 

Em 1205, a filha menor de Conrado e Isabel, Maria de Montferrat, tornou-se Rainha e casou-se em seguida com João de Brienne, que logrou manter o Reino a salvo.

 

A Quinta Cruzada de 1217, contra Damieta, no Egipto, fracassou.

 

Em 1229, o Imperador Frederico II, que era Rei de Jerusalém devido ao seu casamento com a herdeira, recuperou a cidade por meio de um tratado com o Sultão Al-Kamil (Sexta Cruzada). Em 1244, os cristãos perdiam novamente a cidade.

 

No período entre 1229 e 1268, o Rei residiu na Europa. Os Reis faziam-se representar por Regentes. O título foi herdado por Conrado IV, Rei dos Romanos, filho de Frederico II e Iolanda de Jerusalém, e posteriormente por seu filho Conrado III de Jerusalém.

 

Ao longo do séc. XIII, os mamelucos tomaram aos poucos os territórios do Reino, até à queda de Acre, em 1291. O título de Rei de Jerusalém foi então reivindicado pelos Reis de Chipre e, até hoje, por diversos monarcas europeus.

 

h) Saladino e mamelucos (séc. XII - séc. XVI)

 

Saladino tomou Jerusalém a 2 de Outubro de 1187, após um cerco. Inicialmente, não pretendia garantir termos de amnistia aos ocupantes da cidade, até que Balian de Ibelin ameaçou matar todos os muçulmanos da cidade, estimado entre 3.000 e 5.000 pessoas, e destruir os templos sagrados do Islão na Esplanada do Templo se não fosse dada amnistia. Saladino consultou o seu conselho e esses termos foram aceites. Um resgate deveria ser pago por cada franco na cidade, fosse homem, mulher ou criança. De acordo com Imad-al-Din, aproximadamente 7.000 homens e 8.000 mulheres não puderam pagar por seu resgate e foram tornados escravos.

 

Como já foi mencionado, a Terceira Cruzada retomou a cidade de Acre em 1191. Depois de Ricardo I de Inglaterra ter executado os prisioneiros muçulmanos de Acre, Saladino retaliou matando todos os francos capturados entre 28 de Agosto e 10 de Setembro. Os exércitos de Saladino travaram combate com os exércitos rivais de Ricardo Coração-de-Leão na Batalha de Apolónia, a 7 de Setembro de 1191, na qual Saladino foi derrotado.

 

A relação entre Saladino e Ricardo era de um respeito cavalheiresco mútuo, assim como de rivalidade militar. Os dois chegaram a um acordo sobre Jerusalém no Tratado de Ramalá em 1192, pelo qual a cidade permaneceria em mãos muçulmanas, mas estaria aberta às peregrinações cristãs; o tratado reduzia o Reino Latino a uma estreita faixa costeira desde Tiro até Jafa.

 

Em 1244, Jerusalém foi saqueada pelos Tártaros Kharezmian, que dizimaram a população cristã da cidade e afastou os judeus, alguns dos quais foram reinstalados em Nablus.

 

Entre 1250 e 1517, Jerusalém foi governado pelos mamelucos, que impuseram um pesado imposto anual sobre os judeus e destruíram os lugares sagrados dos cristãos no Monte Sião.

 

i) O domínio otomano (1517 - 1917)

 

Em 1517, Jerusalém e caiu sob o domínio turco otomano, que permaneceu no controle da cidade até 1917. Como em grande parte do domínio otomano, Jerusalém permaneceu um provincial e importante centro religioso, e não participava da principal rota comercial entre Damasco e Cairo. No entanto, os turcos muçulmanos trouxeram muitas inovações. Em meados do séc. XIX, os otomanos construíram a primeira estrada pavimentada de Jaffa a Jerusalém, e em 1892 o caminho de ferro chegava à cidade.

 

Com a ocupação de Jerusalém por Muhammad Ali do Egipto em 1831, missões e consulados estrangeiros começaram a estabelecer-se na cidade. Em 1836, o Paxá Ibrahim permitiu aos judeus reconstruírem as quatro grandes sinagogas, entre eles a Hurya.

 

O controle turco foi reinstalado em 1840, mas muitos egípcios muçulmanos permaneceram em Jerusalém. Judeus de Argel e da África do Norte começaram a instalar-se na cidade, em número cada vez maior. Ao mesmo tempo, os otomanos construíram curtumes e matadouros perto dos lugares sagrados judeus e cristãos “para que um mau cheiro, sempre empeste os infiéis”. Nas décadas de 1840 e 1850, os poderes internacionais iniciaram um “braço-de-ferro” na Palestina, uma vez que tentaram ampliar a sua protecção ao longo do país para as minorias religiosas, uma luta realizada principalmente através de representantes consulares em Jerusalém. De acordo com o cônsul prussiano, a população em 1845 era de 16.410: 7.120 judeus, 5.000 muçulmanos, 3.390 cristãos, 800 soldados turcos e 100 europeus. O volume de peregrinos cristãos aumentou sob o domínio dos otomanos, duplicando a população da cidade pela época da Páscoa.

 

Na década de 1860, novos bairros começaram a surgir fora dos muros da Cidade Velha para aliviar a intensa sobrelotação e o pobre saneamento na cidade intramuros. O Complexo Russo e Mishkenot Sha’ananim foram fundados em 1860.

 

j) O Protectorado Britânico e a Guerra de 1948

 

Em 1917, depois da Batalha de Jerusalém, o exército britânico, liderado pelo Gen. Edmund Allemby, capturou a cidade. E, em 1922, a Liga das Nações sob a Conferência de Lausanne confiou ao Reino Unido a administração da Palestina.

 

De 1922 a 1948 a população total da cidade passou de 52.000 para 165.000, sendo dois terços de judeus e um terço de árabes (muçulmanos e cristãos). A situação entre árabes e judeus na Palestina não foi calma. Em Jerusalém, em especial nos motins ocorridos em 1920 e em 1929. Sob o domínio britânico, novos subúrbios foram construídos no oeste e na parte norte da cidade e instituições de ensino superior, como a Universidade Hebraica, foram fundadas.

 

À medida que o Protectorado Britânico da Palestina ia chegando ao seu termo, o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947 recomendou “a criação de um regime internacional, em especial na cidade de Jerusalém, constituindo-a como um corpus separatum no âmbito da administração das Nações Unidas”. O regime internacional deveria continuar em vigor por um período de dez anos, e seria realizado um referendo pelo qual os moradores de Jerusalém iriam votar para decidir o futuro regime da cidade. No entanto, este plano não foi implementado, porque a Guerra de 1948 eclodiu enquanto os britânicos se retiravam da Palestina e Israel declarou a sua independência.

 

A guerra levou ao deslocamento das populações árabe e judaica na cidade. Os 1.500 residentes do Bairro Judeu da Cidade Velha foram expulsos e algumas centenas tomadas como prisioneiros quando a Legião Árabe capturou o bairro a 28 de Maio. Moradores de vários bairros e aldeias árabes a oeste da Cidade Velha saíram com a chegada da guerra, mas alguns permaneceram e foram expulsos ou mortos, como em Lifta ou Deir Yassin.

 

k) Da Guerra de 1948 até “hoje”

 

A Guerra de 1948 terminou com Jerusalém dividida entre Israel e a Jordânia (então Cisjordânia), ficando a Cidade Velha inteiramente do lado jordano. O Armistício de 1949 criou uma linha de cessar-fogo que atravessava o centro da cidade e deixou o Monte Scopus como um exclave israelita. Arame farpado e barreiras de cimento separaram Jerusalém de leste a oeste, e escaramuças militares frequentemente ameaçaram o cessar-fogo. Após a criação do Estado de Israel, Jerusalém foi declarada sua capital. A Jordânia anexou formalmente Jerusalém Oriental, em 1950, sujeitando-a à lei jordana, uma atitude que só foi reconhecida pelo Reino Unido e Paquistão.

 

A Jordânia assumiu o controle dos lugares sagrados na Cidade Velha. Oposto aos termos do acordo, foi negado o acesso dos israelitas aos locais sagrados judaicos, muitos dos quais foram profanados, e apenas permitiram o acesso muito limitado aos locais sagrados cristãos. Durante este período, a Cúpula da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa sofreram grandes renovações.

 

Durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental e afirmou soberania sobre toda a cidade. O acesso aos lugares sagrados judeus foi restabelecido, enquanto o Monte do Templo permaneceu sob a jurisdição de um islâmico waqf. O Bairro Marroquino, que era localizado adjacente ao Muro das Lamentações, foi desocupado e destruído para abrir caminho a uma praça para aqueles que visitam o muro. Desde a guerra, Israel tem expandido as fronteiras da cidade e estabeleceu um “anel” de bairros judeus em terrenos vagos a leste da Linha Verde.

 

No entanto, a aquisição de Jerusalém Oriental recebeu duras críticas internacionais. Na sequência da aprovação da Lei de Jerusalém, que declarou Jerusalém “completa e unida”, capital de Israel, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que declarava a lei como “uma violação do direito internacional” e solicitou que todos os Estados-membros retirassem as suas embaixadas da cidade.

 

O status da cidade, e especialmente os seus lugares sagrados, continuam a ser uma questão central no conflito israelo-palestiniano. Colonos judeus ocuparam lugares históricos e construíram suas casas em terras confiscadas a palestinianos, a fim de expandir a presença judaica na parte oriental de Jerusalém, enquanto líderes islâmicos têm insistido que os judeus não têm qualquer laço histórico com Jerusalém. Os palestinianos encaram Jerusalém Oriental como a capital do Estado Palestiniano, e as fronteiras da cidade têm sido assunto de conversas internacionais.

 

BASÍLICA DO SANTO SEPULCRO (http://www.360tr.com/kudus/kiyamet_eng/index.html)

 

A Basílica do Santo Sepulcro foi construída pelo Imperador Constantino em 333 no lugar marcado por S. Helena na sua visita de 326. O lugar foi marcado seguindo as memórias do lugar como um lugar de execuções, e devido à existência de um jardim, sepulturas e fragmentos de placas de madeira.

 

 

Interior da Basílica do Santo Sepulcro, pomenor

 

A enorme basílica foi arrasada pela invasão persa (614). A nova igreja foi construída sobre as suas ruínas, tendo ficado muitos poucos restos das antigas fundações. No entanto, esta basílica está ilustrada no mapa de mosaico bizantino de Madabá, que foi descoberto em 1884 numa igreja bizantina de Madabá, na Jordânia. Este mapa antigo, feito no séc. VI, mostra o mapa da Terra Santa, com dezenas de lugares ilustrados, incluindo Jerusalém e a basílica original que outrora ali se erguia. Tinha três portas na fachada, partes das quais ainda se encontram no actual edifício.

 

Depois da conquista de Jerusalém pelos árabes (638), a basílica foi parcialmente restaurada numa escala menor. Inicialmente foi respeitado por novas leis que respeitavam Jesus e o lugar da sua sepultura. No entanto, foi novamente arrasado em 1010 pelos governantes árabes quando se tornaram mais radicais no que diz respeito à sua fé. Esta destruição foi uma das causas que levou às Cruzadas, que desejavam retomar o controlo da Cidade Santa e reconstruir a igreja.

 

Em 1099 os Cruzados tomaram a cidade e mantiveram-na até 1187. Restauraram a basílica e sagraram-na em 1149 com o nome de Santo Sepulcro (antes chamava-se Anástasis, ou da Ressurreição). Depois da rendição e queda da cidade às mãos de Saladino, os árabes respeitaram a igreja e a chave foi entregue a uma família árabe (o que acontece até aos dias de hoje).

 

A Terceira Cruzada (1189-1192) tentou reconquistar a Cidade Santa e retomar o controlo da igreja, mas falhou. No entanto, um tratado entre Ricardo Coração de Leão e Saladino (1192-1195) permitiu aos peregrinos visitarem a igreja. Outras cinco Cruzadas (1204-1270) também falharam a reconquista da cidade.

 

Em 1555 os Franciscanos fizeram alguns restauros na igreja, uma vez que ela tinha sido negligenciada apesar no número crescente de peregrinos. Reconstruíram a Edícula, aumentando-a de forma a criar uma antecâmara. Depois dos restauros de 1555, o controlo da igreja oscilou entre os Franciscanos e os Ortodoxos, dependendo de qual das comunidades conseguia um decreto favorável da Sublime Porta, muitas vezes obtido através de subornos, e eram frequentes confrontos violentos. Em 1767, preocupada com as rixas, a Sublime Porta emitiu um decreto dividindo a igreja entre os pretendentes.

 

Em 1808 um incêndio danificou gravemente o edifício, causando a derrocada da cúpula da Rotunda destruindo a decoração exterior da Edícula. A Rotunda e o exterior da Edícula foram reconstruídos em 1809-1810 pelo arquitecto Komminos de Mitilene no então estilo barroco otomano. O incêndio não chegou ao interior da Edícula e as decorações de mármore do Sepulcro datam principalmente do restauro de 1555, embora o interior da antecâmara, agora conhecida como Capela do Anjo, foi parcialmente reconstruído numa planta quadrangular, substituindo a parede oeste semicircular.

 

 A entrada principal para a Basílica do Santo Sepulcro, após incêndio de 1808, segundo uma gravura contemporânea.

 

Um outro decreto do Sultão de 1853 solidificou a existente divisão territorial entre as comunidades e estabeleceu o status quo sobre os processoa “para permanecer para sempre”, o que causou diferenças de opinião no que diz respeito à manutenção e pequenas alterações, incluindo o desacordo sobre a remoção da escada que se encontra no exterior debaixo de uma das janelas (essa escada ainda hoje se encontra no mesmo lugar).

 

 Interior da Basílica do Santo Sepulcro, pormenor 

 

O revestimento de mármore rosa aplicado à Edícula por Komminos deteriorou-se gravemente e está a soltar-se da construção; desde 1947 é sustentada por uma estrutura metálica instalada pelo Protectorado Britânico. Ainda não se conseguiu acordo quanto ao seu restauro.

 

A actual cúpula data de 1870, embora tenha sido restaurado entre 1994 e 1997, como parte de um plano recente de grandes restauros que decorrem desde 1959. Durante os trabalhos de restauro e escavações que decorreram entre 1973 e 1978 foi encontrada uma área que tinha sido originalmente uma pedreira de calcário branco. A leste da Capela de S. Helena, as escavações descobriram um buraco contendo um desenho de um barco romano datado do séc. II d.C., dois muros baixos que, supostamente, suportariam o templo do séc. II a.C. de Adriano e um outro da segunda metade do séc. IV que suportaria a basílica de Constantino. As autoridades arménias converteram estes espaços arqueológicos na Capela de S. Vartan e criaram um passadiço artificial sobre a pedreira a norte da capela, de forma a que a nova capela pudesse ter acesso (com autorização) a partir da Capela de S. Helena.

 

Os principais custódios da Basílica do Santo Sepulcro são os Greco-Ortodoxos, os Arménios e os Católicos Latinos, cabendo a “parte de leão” aos Greco-Ortodoxos. No séc. XIX, os Ortodoxos Coptas, Etíopes e Sírios conseguiram também algumas responsabilidades que incluem alguns altares e outras construções dentro e à volta do edifício. Horários e lugares de celebração para cada comunidade estão rigorosamente regulados nos espaços comuns.

 

O estabelecimento do status quo em 1853 não pôs fim a alguma violência que continua a acontecer de vez em quando até aos dias de hoje.

 

De acordo com o status quo, os locais que não estão designados como espaços comuns podem ser reorganizados sem o consentimento das outras comunidades. A falta de acordo no que diz respeito às zonas comuns leva muitas vezes à negligência e à falta de restauros necessários. Um exemplo disso é a falta de acordo no restauro da Edícula.

 

Nenhuma das comunidades controla a entrada principal. Em 1192, Saladino encarregou duas famílias muçulmanas vizinhas. À família Joudeh foi entregue a chave e à Nusseibeh, que tinha a custódia da igreja desde o tempo do Califa Omar em 637, foi dada a guarda da porta. Este sistema dura até aos dias de hoje. Duas vezes por dia um membro da família Joudeh leva a chave até à porta que é fechada e aberta por um membro da família Nusseibeh. Os Franciscanos são a única comunidade que permanece na Igreja, ficando trancados no interior durante a noite sem qualquer possibilidade de acesso ao exterior durante a noite.

 

In Guia do Peregrino, coligido pelo Cav. Padre Miguel Soares de Albergaria d’Aguiar, Cerimoniário Eclesiástico Adjunto da Lugar-Tenência de Portugal

 

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